segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Diário de uma bêbada

Eu pensava que a vida poderia ser mais do que este cotidiano de trabalho, contas a pagar e sexo esporádico. No meu delírio infantil acreditei qu eu teria a vida de uma Bond Girl; achei que seria uma heroína solitária e conhecida, e que quando a solidão e as dores fossem pesadas demais um Anjo me acolheria em seus braços e me faria amor.

Hoje eu sei que a vida nunca desabrocha igual aos sonhos adolescentes; a vida só caminha por aí, iPod nos ouvidos seguindo as plaquinhas pela estrada. Achei que bastaria ser boa moça, estudar, cumprir com meus deveres cívicos, concluir a faculdade e me casar com o amor da minha vida para ser ser feliz. Toda a jornada se resumiria em ir trabalhar todos os dias, andar na linha, e pagar todas as contas final do mês. Aliás, tem dias que eu penso que minha vida é trabalhar para pagar contas: a do condomínio, do supermercado, da farmácia e das poucas extravagâncias.

Mas sabe, eu não posso reclamar. Sou aquilo que as pessoas olham e dizem "ela é feliz, essa menina". Sim, sou feliz, não me lamento de nada. Porém, cadê aquela vida toda que a adolescencia prometia? Onde estará a aventura, a música, as conquistas?

A Karol sonhadora adormeceu aqui dentro, sobrou a pessoa séria, acadêmica comprometida, a estagiária-modelo, a amiga gordinha querida. A Karol atual é pura fachada rosada, só se liberta em casa e dentro dos seus sonhos estranhos. Ela gosta de beber vinho branco barato no gargalo e dançar nua pela casa ouvindo a programação da Antena 1. Essa pessoa também se penitencia por seus pensamentos pecaminosos, chora quando ouve "Rain" da Madonna e quando passa filminho água com açúcar na tv.

A verdadeira que escondo no fundo de mim adora as segundas-feira justamente pela expectativa do que pode acontecer no resto da semana; adora também ouvir Simple Red a caminhodo trabalho mas tem vergonha de dizer por achar mega brega.

Uma musiquinha do passado toca no rádio: "my love, my love is waiting for you [...]". Eu só queria saber quando vai passar essa inquietude, essa vontade de fazer tudo ao mesmo tempo. Eu não quero ser assim para sempre. Juro que eu me contentava em ser uma feliz bibliotecária catalogando livros durante 6 horas do dia. É mentira, eu sei, mas que importa?! Acho que meu problema é pensar demais e em todas as coisas ao mesmo tempo. Ou quem sabe eu não tenha problema algum e só seja mais uma não-agradecida, idiota e tola que não sabe o que fazer com o tempo que lhe resta.

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu chorei quando li o texto. Tudo idem pra mim (mas em vez de simple red é doors).

Anônimo disse...

wise-boy... affe ja ti falei pessoalmente... hehe... Choro da Rosa... leia

Nayana disse...

[Acho que meu problema é pensar demais e em todas as coisas ao mesmo tempo. Ou quem sabe eu não tenha problema algum e só seja mais uma não-agradecida, idiota e tola que não sabe o que fazer com o tempo que lhe resta.]²

ooooh, yeah, babe.

Antonio disse...

Pra falar por baixo, gostei muito da tua escrita.

O voo

N os conhecíamos há anos, mas a sinapse do desejo nasceu naquele encontro incidental num voo de volta para o Rio. Era fato que eu não ditava...