terça-feira, 16 de outubro de 2018

Eleições 2018

Aprendemos na porrada. O sangramento não é opcional. Pinga. Dói respirar. E ultimamente, dói viver. Após uma bordoada eu chego em casa e direto me entrego para o vinho. Vai atenuar a dor, é o que vejo escrito no rótulo depois de meia garrafa. Eu bebo para esquecer, para amenizar, para suavizar a dor e um medo crescente dentro de mim.
Ultimamente passei a ter medo. E o medo é tipo um bife que a manicure tira do dedo e que não chega a doer, mas incomoda por algum tempo. E quando cura logo chega a hora de fazer as unhas e a gente torce pra manicure ser mais cuidadosa. Só que o medo de agora é pior. É algo que não passa; é um coração descompassado às 14h; é um engasgo com copo de água às 16h, uma garrafa de vinho às 21h e um comprimido antes de dormir às 23h.
Eu ando mal.
Eu não ando, eu perambulo.
Tenho perambulado só para cuidar da minha gata que está idosa e dodói. Ela é meu amor e minha responsabilidade. Estamos nós duas ferradas num mundo que só tende a nos engolir pela idade, pela falta de calor – engolidas pela dor.
A vontade de ir embora aumenta a cada dia. Largar tudo, eu penso, nem que seja para ficar no purgatório. Mais uma taça de vinho. Mais uma respirada funda, um olhar perdido pela janela, um carinho na minha gata. Mais uma noite com medo.
Como são trises meus dias desde que você partiu. Então eu descubro como a vida é depois de você. Que merda! Merda um dia sim e dia depois também.
O mestrado consome meu cérebro e nem consigo pensar em sexo. Penso em estatística e em sistemas de inferência, a porra da probabilidade total e quero que se exploda a Teoria de Bayes. Não quero calcular pesos em redes neurais, quero só dormir em paz [insiro aqui todo o respeito aos meus professores de inteligência artificial].
Tenho aquela velha dor de estomago e de cabeça, tudo se fundindo numa coisa só alinhada à insônia e a leve vontade de mandar tudo mundo pra puta-que-pariu-me-deixa-em-paz-vão-se-fuder, por favor. Sou moça educada, pelo menos na maior parte do tempo. Quando chego em casa eu só quero dormir, mas mesmo o ato de adormecer ter sido minha melhor qualidade em 34 anos, agora até isso me foi tirado e fico na cama remoendo o dia, o passado e apavorada com um futuro. Nunca pensei que eleições fossem me tirar o sono. Não vou me deter ao assunto porque está tudo aí mastigado pra vocês.


Pausa solene para o sacrossanto xixi.

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