Aprendemos na porrada. O sangramento não é opcional. Pinga.
Dói respirar. E ultimamente, dói viver. Após uma bordoada eu chego em casa e
direto me entrego para o vinho. Vai atenuar a dor, é o que vejo escrito no rótulo
depois de meia garrafa. Eu bebo para esquecer, para amenizar, para suavizar a
dor e um medo crescente dentro de mim.
Ultimamente passei a ter medo. E o medo é tipo um bife que a
manicure tira do dedo e que não chega a doer, mas incomoda por algum tempo. E
quando cura logo chega a hora de fazer as unhas e a gente torce pra manicure
ser mais cuidadosa. Só que o medo de agora é pior. É algo que não passa; é um
coração descompassado às 14h; é um engasgo com copo de água às 16h, uma garrafa
de vinho às 21h e um comprimido antes de dormir às 23h.
Eu ando mal.
Eu não ando, eu perambulo.
Tenho perambulado só para cuidar da minha gata que está
idosa e dodói. Ela é meu amor e minha responsabilidade. Estamos nós duas
ferradas num mundo que só tende a nos engolir pela idade, pela falta de calor –
engolidas pela dor.
A vontade de ir embora aumenta a cada dia. Largar tudo, eu
penso, nem que seja para ficar no purgatório. Mais uma taça de vinho. Mais uma
respirada funda, um olhar perdido pela janela, um carinho na minha gata. Mais
uma noite com medo.
Como são trises meus dias desde que você partiu. Então eu
descubro como a vida é depois de você. Que merda! Merda um dia sim e dia depois
também.
O mestrado consome meu cérebro e nem consigo pensar em sexo.
Penso em estatística e em sistemas de inferência, a porra da probabilidade
total e quero que se exploda a Teoria de Bayes. Não quero calcular pesos em
redes neurais, quero só dormir em paz [insiro aqui todo o respeito aos meus
professores de inteligência artificial].
Tenho aquela velha dor de estomago e de cabeça, tudo se fundindo
numa coisa só alinhada à insônia e a leve vontade de mandar tudo mundo pra
puta-que-pariu-me-deixa-em-paz-vão-se-fuder, por favor. Sou moça educada, pelo
menos na maior parte do tempo. Quando chego em casa eu só quero dormir, mas
mesmo o ato de adormecer ter sido minha melhor qualidade em 34 anos, agora até
isso me foi tirado e fico na cama remoendo o dia, o passado e apavorada com um
futuro. Nunca pensei que eleições fossem me tirar o sono. Não vou me deter ao
assunto porque está tudo aí mastigado pra vocês.
Pausa solene para o sacrossanto xixi.
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