quarta-feira, 27 de abril de 2011

Desabafo do dia

Agora, como gestora da biblioteca, tenho algumas atribuições chatas e difíceis. Uma das chatas é justo que a iniciou hoje com a seleção dos bolsistas para o ano. Da mesma forma como ocorre em todas as universidades públicas, a questão sócio-econômica é o principal critério para oferecimento/preenchimento das vagas para bolsistas... e isso não seria problema algum pra mim se no formulário não tivesse uma parte onde é requerido que o bolsista fale um pouco de si, contanto resumidamente aspectos gerais de sua vida. Quando comecei a analisar alguns formulários hoje a tarde com uma colega de trabalho, eu juro que me contive para não chorar com esses resumos, com a história da vida dessas pessoas, pois só havia desgraça. A maioria das histórias falavam de lares desfeitos, pais desaparecidos, pai morto, mãe morta, mãe e pai desempregados, mães ganhando um salário mínimo tendo que sustentar 4 ou 5 filhos, marido que abandonou a esposa grávida... gente que passou no vestibular e agora não tem como se manter na universidade porque os cursos são integrais e não sobra horário para trabalhar, entre tantas outras. E agora me diz: como selecionar só 6 pessoas com esse critério sócio-econômico tão parecido, com uma dor tão igual???

E posso dizer mais? Antes, eu olhava para esses alunos, esses 'anjinhos' como minha chefinha falava, e imaginava-os riquinhos e tals, principalmente porque cursam medicina, odonto, nutrição, biologia, engenharias diversas, química... Confesso que errei por fazer uma avaliação superficial deles baseada somente nas roupas, no jeitinho meio blase e acomodado. E agora descobrir parte da história real dessas pessoas me deixa triste e sem muito jeito para encarar a situação. Principalmente porque eles entregam os formulários de inscrição tão cheios de esperança, com sorrisos tão lindos e confiantes... Enfim, essa noite está sendo particularmente difícil concentrar meus pensamentos em algo que não seja o que eu li nos formulários e nas entrevistas que acontecerão amanhã e na sexta. Eu não queria olhar nos olhos deles e dizer que sinto muito...

Detalhe é que eu fui estagiária/bolsista durante toda a graduação, mas nunca passei por isso de contar minha vida, até porque mesmo sendo classe média [#pobrezapega], nunca cheguei nem perto da história dessas pessoas, apesar de ter batalhado um monte para hoje estar aqui como uma trabalhadora do Brasil, se f**dendo no imposto de renda. De qualquer maneira, não estou preparada para ver gente chorando pedindo bolsa, como ocorreu o ano passado... Nunca pensei que essa parte da gestão fosse tão desgastante. Mas agora sei que *necessito* fazer um curso de gestão de pessoas, que é para aprender enfrentar situações como essa e outras tantas.

Deus pai, aceito ajuda tá?!

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