quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Chama vermelha dos olhos azuis

Parte da noite de terça.

Campainha tocou. Levantei do sofá e fui atender. A encomenda: qualquer sabor de pizza sem azeitona. Bebida? Ah sim, vinho branco, daqueles baratos, comprados no posto.
- Pediu sem azeitonas, não é? Ela perguntou já erguendo a sobrancelha esquerda.
- Claaaro, dear.
Coloquei tudo por cima de mesinha de centro da sala e voltei a recostar-me no sofá. Ela continuava sentada do outro lado, sorvendo o vinho em pequenas doses, pensando sabe lá o que. Eu temia falar ou até mesmo respirar alto para não interromper sua cadeia de pensamentos com alguma observação idiota. A todo momento eu temia perder as migalhas de atenção que ganhava pouco a pouco. Não tinha interesse, just talk...
Seu olhar estava concentrado na estante de cd's atrás de mim. Vários títulos, canções do passado. Ninguém compra cd's hoje, e às vezes, bem rapidamente, penso que estou ficando velha por ainda os manter intáctos na estante. No entanto, gosto de olhar para eles, e dedico-me a limpeza sistemática de cada um, meus pequenos companheiros das horas mortas.
Bem, depois de cinco garrafas secas ela foi embora. Falamos sobre tudo aquela noite, mas sabe quando o "muito" é o mesmo que "nada"? Então... fomos incapazes de pronunciar algo de verdadeiro, de conversar sobre o que a gente sentia; de falar sobre as dores e as pequenas alegrias. Resultado da noite: um grande silêncio. [by the way, a Torá diz que o silêncio alimenta a evolução interior. Será?]
Antes de trancar a porta fiquei olhando ela chamar o elevador. Os cabelos negros caidos
pelo rosto escondiam qualquer sinal. O elevador chegou ao andar e ela abriu a porta. Entrou. Parou. Voltou-se de frente. Antes de fechar a porta queimou-me com a chama vermelha do olhar azul e eu soube então que não a veria nunca mais.

2 comentários:

Anônimo disse...

És doce, moçinha. Mas és feia, és gorda e usas óculos. Sei qua vales ouro, mas quem vai te querer?
Fica aí a sonhar com olhos azuis, fica.

Anônimo disse...

Oi maninha.
Não liga pra essa criatura aí não.
Adorei ^^

Te amo³

O voo

N os conhecíamos há anos, mas a sinapse do desejo nasceu naquele encontro incidental num voo de volta para o Rio. Era fato que eu não ditava...