domingo, 2 de setembro de 2007

Persepções


Não posso dizer quando tudo começou. Mas posso dizer quando foi a primeira vez que comecei a pensar com seriedade em tudo aquilo...

Foi na Exposição Agropecuária, em Itaipava, o ano era 1997.
Era um mar de gente esperando um show começar. Kid Abelha. Pela multidão de gentes conhecidas e desconhecidas, ela ia abrindo caminho a minha frente, nos levando para um lugar mais perto do palco e junto de alguns amigos. Eu morria de frio e de medo de me perder dela. Eu não tinha o hábito de sair muito de casa, ainda mais para shows, preferia a companhia de um livro e de uma cama macia, mas naquela noite a insistência dela havia vencido minha preguiça e fomos para o parque de exposições assistir ao show, depois de dar várias voltas nos brinquedos do parque, ao lado do seu primo F.
Itaipava sempre é muito fria a noite, especialmente em abril. E naquela noite eu estava morrendo de frio, apesar do casaco grosso e das botas deixavam meus pés protegidos do chão de terra, ou seria melhor dizer da lama fria.
Eu reclamei de frio e ela parou de andar e me olhou. Tocou minhas mãos e as esfregou, colocando perto da sua boca para aquecê-la com o vapor quente dos pulmões. Lembro que ela brigou comigo porque eu não quis colocar a jaqueta que ela mandado colocar ainda no caminho, dentro do carro. Ela segurou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus e seguiu andando para frente, procurando o grupo.

O que eu senti naquela hora em que ela me conduzia foi estranho, diferente de todas as outras vezes em que segurou minha mão, ou que me abraçou e beijou como minha melhor amiga. Àquela hora eu só conseguia pensar em como a mão dela prendia firme meus dedos, para não me soltar, e como era macia a palma de sua mão e seus dedos. Em todos os anos de amizade eu nunca havia reparado nela como outra coisa senão como uma irmã 1 ano mais velha, que me protegia no colégio e sempre me contava suas aventuras com os meninos por quem se apaixonava. No entanto, me lembro da sensação de estar de mãos dadas com ela, de ficar olhando suas costas largas da natação, do cabelo liso, negro, caídos pelas costas. Não lembro das pessoas à volta, não lembro da música alta e nem de reclamar da lama e da poeira daquele lugar, só lembro das percepções, da mão firme, de me puxar por entre o caminho pelo que me pareceu uma eternidade.

Quando encontramos o grupo bem perto do palco entre eles estava R. aquele que viria a tornar-se seu namorado algumas semanas depois. Nós nos juntamos a eles e fui apresentada por ela a um amigo seu e de seu primo, C. - um homem mais maduro, louro com um cavanhaque perfeito.

O show começou e com ele a tristeza de quando ela largou minha mão para tomar a de R. A agonia ficou por conta de tentar me livrar de C., com seus abraços sufocantes e seus beijos que me impediam de raciocinar sobre todas aquelas novas sensações dentro de mim. Não que os beijos de C. fossem ruins. Sua barba era agradável até; sempre gostei de ver homens com barba, mas o que me impedia de esquecer aquilo tudo e curtir a noite com ele era ver J. ali, dentro do abraço de outro e eu desejando estar entre os dela.
(continua)

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante o q v. escreve. Acredito q o nosso primeiro amor sempre acontece pela melhor amiga, ou amigo.
Continue a estória, por favor.
Beijo

O voo

N os conhecíamos há anos, mas a sinapse do desejo nasceu naquele encontro incidental num voo de volta para o Rio. Era fato que eu não ditava...