E a paz acabou quando tomei o resto do chá gelado e a vi chegar. Ela olhava as folhas que caiam da árvore para não ter que me olhar. Eu estava fixa nas pedras de gelo dentro do copo de vidro que transpirava. E assim ficamos mudas esperando a pulsação voltar ao normal. É difícil olhar nos olhos quando o corpo quer explodir. Manter o silêncio é uma coisa descomunal.
Tudo bem que eu faço cara de paisagem, dou a Egípcia, porém nunca exclui ninguém entende, mesmo quando a criatura é da pior espécie e apronta horrores comigo. Sei lá, questão de coração mole, de se manter sempre no salto. Quando a gente ignora alguém é como se limpasse a poeirinha que cai sobre a roupa e que não significa nada. Difinitivamente, ser ignorada dói mais que qualquer surra. E posso dizer que aqui tudo dói muito. Mas não é uma dor tola, é uma sensação nova e super desagradável. Quando passo por ela nos corredores eu baixo os olhos, dá um nó na garganta, fico vermelha e até prendo a respiração para que ela nem me perceba, se possível. Se eu aprontei alguma coisa? Nada amigos, não mesmo. Só me apaixonei por uma professora e todo o resto é fofocada de gente que quer ver o circo pegar fogo. Pior é nem saber exatamente o que falaram sobre mim. Meu erro? Ah sim, abri a boca para amiga dela, que nem é tão amiga porque se fosse teria sido discreta ou teria agido com cuidado.
O gelo no copo virou água. Peguei uma Coca-Cola light e passei a admirar o chão. Segundos depois ela passou a mão pelos cabelos, os dedos em formato de tesoura. Levantou-se com cuidado, recolocou os óculos chiques e subiu a rampa sem olhar para trás.
Mas claro, isso tudo é só uma história.