domingo, 4 de outubro de 2009

Sapatinha, sapatona, sapatão

Well, quando eu resolvi assimir a "sapatice" muita gente virou a cara pra mim, principalmente aquelas que eu achava que nunca seriam capazes desse tipo de coisa, mas tudo bem. Não perdi 1 minuto sequer lamentando. Várias pessoinhas chegavam pra mim e diziam algo assim: "ah Karol, que pena, você sempre foi uma menina tão educada, certinha, estudiosa...". Acontece que eu sempre fui sapatinha, já nasci assim, então não iria deixar de ser nada do que era. A única mudança seria que eu não precisaria mais ser a rainha da mentira e nem teria que esconder certas escapolidas depois do colégio.


Enfim, quando cheguei a Floripa eu já era um pouquinho mais descolada, mas mesmo assim foi difícil. Floripa tem uma cultura, um habitus (Bourdieu aí hehehe) super diferente de Petrópolis e do Rio, então eu tinha um medinho de não ser bem aceita na faculdade. Bem, eu faço um curso onde a maioria da turma é composta por mulheres, então quando vazou que eu apreciava "gurias" logo esperei alguma reação (mesmo sabendo que Floripa estava bombando no Brasil como uma das grandes capitais gays). Mas pra minha surpresa (boa, claro) isso não aconteceu, pelo menos não senti e nem nunca percebi, pelo contrário, sinto-me super respeitada. Não sou a única gay na minha turma e por sinal conheci dois dos meus 3 melhores amigos nessa turma e dois deles são do bafo também (a outra amiga é hétero descoladíssima), então posso arriscar a dizer que nunca tive problemas na minha turma com a minha preferência/opção/orientação sexual.


Pena que não posso dizer a mesma coisa em relação ao meu local de trabalho. A todo momento ouço piadinhas enfadonhas sobre viado, sapatão e outros apelidinhos. Eu adoro a minha Chefinha, porém ela nem consegue pronunciar a palavra "homossexual" ou "gay" ou "lésbica". Ela faz um gestinho com a mão, dobrando o punho e deixando a mão frouxa para indicar que fulano é gay. Isso me dá nos nervos sabe, fico maluca no salto, mas mesmo assim fico calada. Ela é uma pessoa tão limitada que não enxerga que tem uma sapa trabalhando ao lado dela todos os dias. De qualquer forma, não é somente ela que reage assim, já vi muita gente lá mesmo fazendo pior. E olha que é um lugar onde todo mundo é politicamente correto e tudo e tal. Falsidade a parte, não vejo a hora de poder respirar e olhar uma mulherzinha requebrando num salto 15 sem ter medo de ser fuzilada. Ao contrário da faculdade, no meu trabalho eu não me sinto nem um pouco a vontade para abrir minha vida; eu falo o mínimo possível, mesmo às outras pessoas eu gosto, de modo eu sofro um pouco quando as ouço comentar que alguém é "sapatão". Não é pela palavra sabe, mesmo porque eu até a pronuncio com frequencia mas, neste caso, é a forma como ela é empregada por essas pessoas que me encomoda. Elas utilizam "sapatão" como referência a uma doença, como um mal a ser expurgado. E isso aí doi em mim certas horas...


Bem, mas eu disse tudo isso para mostrar um video que eu no blog Fanshas! e que achei interessante. O video é uma reportagem, feita aqui em Floripa, e a reporter pergunta aos transeuntes como eles reagiriam ao saber que o filho deles é HETEROSSEXUAL. Para grande espanto, as pessoas não sabem a diferença entre heterossexual e homossexual. Porém isso é só um detalhe, pois o que o video quer mostrar mesmo é que as pessoas são, na maioria, preconceituosas sim.





Então, como eu dizia antes, minha turma toda da facul sabe que sou sapa, mas outros colegas e alguns professores não sabem de nada (eu acho, néam); algumas pessoas devem ter descoberto por conta deste blog, mas isso não me encomoda não, até porque eu não quero passar a vida me escondendo e escondendo que eu tenho uma namorada linda, cheirosa, educada, perfeita, inteligente, chique, maravilhosa e que meu namoro/casamento é uma delícia e tão melhor do que tantos outros casamentos que eu vejo por aí. Ai, esses dias quase contei pra minha profe. orientadora que sou sapinha, mas desisti na última hora. Ela parece ser uma pessoa tão super, mas sei lá, tem horas que eu tenho medo. Affe.

A propósito, claro que hoje eu percebo uma abertura muito maior em relação aos homo e bi, o que não acontece com os transsexuais. E isso me leva a outra questão: como você reagiria se seu filho(a) se assumisse como travesti? O que você faria? Ah sim, eu também me pergunto o que eu faria, porque sou humana e trago comigo uma herança maldita de preconceitos.
Mas eu estou a mudar isso sim... Ah, e não me venha responder com base na Bíblia porque senão eu como o seus rins com ovos mexidos no café da manhã. humpf.

Beijo beijo, amados.





4 comentários:

Wise-Boy disse...

Ai, Na sala tem respeito sim, mas tem muita falsidade também, (pessoas que dizem que não tem preconceito), mas muitas delas não sabem nem o que é, como no video, exemplo disso foi nossa viagem academica em curitiba quando levamos eles para uma balada gls e adoraram, pensavam que era só coisa 'ruim', mesmo não me formando com vcs, tenho certeza da nossa amizade, pois muitos de lá se foram, eu fui mas o laço está eternizado.

Karol disse...

Ai verdade Dud. Levar o povo pra balada gay e ve-los agradecer depois foi super hahaha.
Te amo, amigooo ^^

Cruela Veneno da Silva disse...

eu trabalho em um universo repleto de homens... e sempre ouço piadinhas.

ódio

se o cara não fosse um juíz eu ia dizer

"senta que é de menta"

cris disse...

o vídeo é hilário. e o assunto é bem sério. no meu trabalho tem profe. que é visivelmente gay pagando de macho alfa, contando da mulherada que pegou no fim de semana. dose, né? mesmo achando que armário é coisa séria e que cada um sabe a hora de sair, ele não precisava ficar pagando de machão. também já ouvi outra profe. dizendo que não gostaria que lésbica chegasse perto das filhas dela, porque ela tem medo. mel dels, medo de quê?? não dá pra entender o que se passa na cabeça de certas pessoas... bjs!

O voo

N os conhecíamos há anos, mas a sinapse do desejo nasceu naquele encontro incidental num voo de volta para o Rio. Era fato que eu não ditava...